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 vitórias, vivências, derrotas, histórias, experiências e emoções da 
pessoa que gagueja. Este não é o Grupo de Apoio, mas a produção do 
primeiro documentário brasileiro sobre gagueira, chamado de A Voz do 
Gago, dirigido e idealizado pelo cineasta Daniel Barbosa, com apoio 
institucional da Associação Brasileira de Gagueira.
Barbosa
 lançou a campanha de arrecadação de fundos para concretizar a produção.
 Ela funciona no modo crowdfunding, ou seja, um tipo de vaquinha 
virtual, onde todos podem contribuir com qualquer quantia em dinheiro. 
Para escrever para o produtor, dar sugestões ou contribuir com o 
documentário, acesse o site: www.avozdogago.com.br
 
A ABRA Gagueira entrevistou Daniel Barbosa, que trouxe mais detalhes sobre o documentário.
ABRA Gagueira - Qual foi a sua motivação para a realização de A Voz do Gago?
Barbosa
 - Surgiu depois de uma experiência que tive ao ser convidado para dar 
entrevistas em dois programas televisivos. Elas me levaram a ter um 
contato mais direto com a problemática da gagueira.
ABRA Gagueira - E por onde você começou?
Barbosa
 - A ideia inicial era fazer um curta de ficção, onde o personagem 
principal seria um gago, mas percebi que muitas pessoas que gaguejam 
tinham dúvidas ou falavam de suas angústias e sofrimentos e outras 
compartilhavam suas histórias de superação. Também percebi que, quando a
 gagueira era abordada pela mídia, a voz principal era a do 
fonoaudiólogo, mas eram raras as aparições da pessoa que gagueja falando
 como era ser gago. Então pensei: quem é a melhor pessoa para falar 
sobre gagueira? O próprio gago!
ABRA Gagueira - Então assim que surgiu o nome também?
Barbosa - Sim, uma boa forma de falar da gagueira seria pela ótica da pessoa que gagueja e, assim, dando voz ao gago.
ABRA Gagueira - A Voz do Gago trará o que ao público?
Barbosa
 - O documentário mostrará depoimentos de pessoas que gaguejam, seus 
familiares, companheiros de trabalho e amigos. Também entrevistaremos 
fonoaudiólogos, para falar da parte científica, dos tratamentos e 
psicólogas para falar das consequências. A pessoa que gagueja será a 
grande protagonista deste filme.
ABRA Gagueira - Você encontrou alguma resistência entre as pessoas que gaguejam?
Barbosa
 - Por incrível que pareça, os gagos querem falar, estão dispostos a 
expor a sua problemática. Tenho recebido mais respostas afirmativas que 
negativas. Infelizmente, os gagos famosos que eu entrei em contato não 
se interessaram, com exceção de Marcos Frota, que topou na hora. Alguns 
gagos até se oferecem, mas por serem de outros estados, ainda não 
tivemos condições de ouvi-los. Já encontrei pessoas com resistência, mas
 depois que explico o objetivo do projeto, elas mudam de ideia. Até 
agora, dentre aqueles que toparam dar o seu depoimento, ninguém 
desistiu.
ABRA Gagueira - Quais são as sua expectativas para a produção?
Barbosa
 - A minha expectativa sobre o documentário é muito grande. A cada 
momento, descubro histórias interessantes e emocionantes, que dá vontade
 de contar. Tenho certeza de que ele irá surpreender, assim como eu me 
surpreendo a cada dia, a cada nova descoberta, a cada nova história. 
Percebo que tem histórias lindas de superação e outras, tristes, por 
desconhecimento da pessoa sobre a sua problemática. A cada dia, vejo que
 é um tema rico de situações. Tenho certeza de que esse projeto poderá 
ajudar muita gente, não somente as pessoas que gaguejam, mas também 
aquelas que têm curiosidade sobre o tema. Acredito que poderá ser muito 
útil à sociedade como um todo. Só espero poder conseguir contar todas as
 histórias.
ABRA Gagueira - E por quê não conseguiria?
Barbosa
 -  As gravações ainda estão num ritmo muito lento, pois só marcamos as 
entrevistas quando conseguimos arcar com os custos. Até o momento apenas
 oito pessoas contribuíram, totalizando um valor de  R$ 1.870,00. De 
qualquer forma, o filme será realizado, independente do valor 
arrecadado. A diferença será no tempo de filmagem.
ABRA Gagueira - Você trabalha com comunicação, como foi a sua trajetória neste campo como pessoa que gagueja?
Barbosa
 - Tanto na escola, quanto na faculdade, a gagueira jamais foi um 
empecilho para eu fazer qualquer coisa. Nunca tive problemas por ser 
gago e as pessoas com quem convivi nunca me estigmatizaram. Sempre fui 
tratado de igual para igual. Até fui representante de turma e orador na 
formatura da escola e da faculdade. O maior problema foi a minha entrada
 no mercado de trabalho, quando me deparei com o preconceito, o 
pré-conceito e o julgamento. As outras pessoas achavam que eu não seria 
capaz de fazer o meu trabalho de produtor, por ser gago. Quase desisti 
de fazer o que mais gostava, porque os outros achavam que eu não era 
capaz.
ABRA Gagueira - O que te levou a não desistir?
Barbosa
 - O Grupo de Apoio da ABRA Gaguira no Rio de Janeiro abriu os meus 
olhos para a existência de várias pessoas iguais a mim, com o mesmo 
problema e que conseguiam fazer tudo o que desejavam na vida. Depois 
disso, passei a estudar o assunto e cá estou querendo levar essas 
vivências, superações, tristezas ou alegrias para outras pessoas, com o 
objetivo de tirar dúvidas, e, assim como aconteceu comigo, se 
reconhecerem através de outras pessoas, servir de estímulo.